quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Olha, Sophia, desse jeito não dá.
Não vem com toda essa malemolência pra cima de mim,
fazendo que vai ficar.
Eu sei como tu é, eu te conheço,
eu sei que tu vai me enganar.
Não adianta usar a blusa decotada
ou a mini saia jeans desbotada,
nem cantar Red Hot no meu ouvido
ou fazer aquele cozido.

Olha Sophia, não adianta chorar
foi tu que fez nosso amor acabar
ou tu acha que iria sempre te esperar?
Quando por mim tu passou desfilando
“Não me procura” gritando,
e ainda assim, na mesma noite voltando
notei que seria apenas assim.
Ontem no botequim,
quando te vi lá bebendo
sabia que precisava de uma ultima noite
para sarar a saudade.

Para de dengo Sophia,
não tem cara feia que me assuste,
preciso só do teu perfume
e sentir teu cabelo roçando
e tua boca transbordando
e meu coração palpitando
e o grito retumbando.

Só mais uma noite.
Então, me diz Sophia.
O que vai ser?

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tempo

A lua vista da janela da casa de Sophia era enorme. No mar se via aquela grande bola branca na imensidão do céu. Ela gostava de fazer isso, pegar o café e sentar no parapeito para observar e ouvir as ondas vindas em direção a areia. Ali era o único lugar onde conseguia pensar, observar e ponderar o que ocorria a sua volta. Colocava os fones com sua música preferida e, ás vezes, lia um livro - nos dias mais estressantes trocava o café por uma garrafa de whisky e o livro por uma bela viagem. Mas hoje havia sido um dia bom, calmo na medida do possível, pensava enquanto pegava em seu bolso a chave que ele havia dado para ela. Queria ter alguém com quem fala sobre isso, já que sempre que tomava decisões sozinha se machucava ou às pessoas em sua volta; por isso não havia sobrado muitas. Tomou o resto do café e quase derrubou a xícara quando ouviu um grito e um baque no andar de baixo e Sophia já sabia o que ia se seguir daquilo. Pulou a pequena distância da janela até a areia e caminhou em direção a cidade torcendo para que dessa vez os ferimentos cicatrizassem logo.
Depois de caminhar quase hora de baixo do vento frio, chegou até a casa.  Tocou no portão de ferro e respirou fundo: já estava aqui, não podia voltar atrás, precisava tirar esse peso das costas. Empurrou o portão e foi em direção a porta e abriu-a.
- Arthur?
- Aqui em cima.
A única luz que iluminava a casa era a do segundo andar. Sophia subiu as escadas e foi em direção ao quarto. Lembrava daquele lugar como se fosse sua casa, mesmo tendo passado mais de 10 anos sem ir até lá. Chegou na porta e se deparou com ele sentado no chão com os olhos vidrados na TV enquanto jogava vídeo game.
- Pode entrar Soph...
Caminhou até a cama e sentou-se na ponta da cama.
- Teu quarto continua igual.
- É...
Ela olhou as paredes brancas e viu um desenho que havia dado para Arthur na segunda série.
- Não acredito que tu guardou isso – disse ela levantando-se e pegando o desenho.
- É... Eu gosto de olhar e lembrar daquela época – ele também havia levantado-se e estava do lado dela.
- Por que? – disse ela com a chave na mão.
- Pra quando tu se cansasse da janela e do café.
 - Como tu sabe da janela e do café?
- Quando tínhamos oito anos era janela e refrigerante... Acho que deduzi – ela riu – tu sabe Sophia. Jurei que iria te fazer feliz e te proteger.
- Mesmo depois de tudo que te fiz?
- Mesmo depois de tudo que tu me fez.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Assim caminha a humanidade II

Seu nome - dado pelo pai, um jornalista apaixonado por mitologia grega - não condizia com sua pessoa, tinha a tez tão clara quanto um pedaço de papel e os cabelos da cor do fogo não remetiam ao significado de seu nome, a deusa da noite. Era baixa e parecia frágil, porém era uma pedra por dentro e tinha um dom incrível para poemas. Hoje, com 17 anos, era uma mulher já, não lembrava nada daquela garotinha de 14, quando ele a conheceu pela primeira vez, quando ela foi com o pai para o jornal e ele estava lá esperando seu avô. Ela carregava consigo um caderno com uma capa de couro azul clara - cor de seus olhos - e sentou no mesmo banco que Theo.
- Oi. A voz dela era fina e baixa, parecendo um piado.
- Olá. Ele disse.
- Sou Nyx, como é seu nome?
- Nyx?
Ela franziu a testa e ficou levemente vermelha
- Fique sabendo que Nyx foi uma deusa grega. A deusa da noite.
E saiu andando. Esse foi o primeiro contato que tiveram. Semana após semana ela sentava-se ao lado dele, até que em um certo dia trouxe consigo um embrulho.
- Oi
- Olá... O que é isso?
- É pra você.  Hoje é seu aniversario nao?
- Sim, mas como você sabe?
Ela deu de ombros e cruzou as pernas. Ele abriu a caixa e viu ali dentro o caderno azul.
- Por que tu ta me dando teu caderno azul?
- por que é a coisa mais importante pra mim, e eu queria te mostrar que tu é especial para mim.
- Mas nos mal nos conhecemos.
Ela deu de ombro novamente e sorriu. Após aquele dia, voltaram a se ver sempre até que com 15 anos anunciou para ele que viajaria, passaria o ano lá enquanto o pai estudava a literatura européia em Paris. Durante este tempo ele lia o caderno todos os dias, sentia falta de ouvir a voz dela, de vê-la escrever.
Um ano e meio depois ela - já de volta - fora visitá-lo. Ao ver Nyx em sua porta seus lábios se abriram antes que qualquer pensamento invadisse sua mente.
- Eu te amo.
Os lábios rosados dela se abriram e saiu correndo. Ele foi atrás, puxando-a para si quando a alcançou.
- Eu não sabia até te ver, mas eu te amo. Quero passar o resto da minha vida contigo.
E a beijou. Sentiu o mundo em sua volta parar quando seus lábios se encostaram e sua mão segurou a cintura dela. Abriu os olhos e a olhou.
- T-também amo você.
Ele passou os dedos na bochecha dela, seguindo até seu queixo. Puxou-a para si novamente e beijou-a. Abriu a boca dela com a sua e entregou-se totalmente. Após alguns minutos parou, pegou sua mão e levou-a para sua casa. Chegando no primeiro degrau da escada ela parou.
- O que houve?
- Tenho medo.
- De que?
- Não sei se estou pronta.
Ele se aproximou dela e segurou seu rosto entre as mãos.
- Juro que nunca vou te machucar.
E com isso subiram até o quarto e tiveram sua primeira e única vez.