domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tempo

A lua vista da janela da casa de Sophia era enorme. No mar se via aquela grande bola branca na imensidão do céu. Ela gostava de fazer isso, pegar o café e sentar no parapeito para observar e ouvir as ondas vindas em direção a areia. Ali era o único lugar onde conseguia pensar, observar e ponderar o que ocorria a sua volta. Colocava os fones com sua música preferida e, ás vezes, lia um livro - nos dias mais estressantes trocava o café por uma garrafa de whisky e o livro por uma bela viagem. Mas hoje havia sido um dia bom, calmo na medida do possível, pensava enquanto pegava em seu bolso a chave que ele havia dado para ela. Queria ter alguém com quem fala sobre isso, já que sempre que tomava decisões sozinha se machucava ou às pessoas em sua volta; por isso não havia sobrado muitas. Tomou o resto do café e quase derrubou a xícara quando ouviu um grito e um baque no andar de baixo e Sophia já sabia o que ia se seguir daquilo. Pulou a pequena distância da janela até a areia e caminhou em direção a cidade torcendo para que dessa vez os ferimentos cicatrizassem logo.
Depois de caminhar quase hora de baixo do vento frio, chegou até a casa.  Tocou no portão de ferro e respirou fundo: já estava aqui, não podia voltar atrás, precisava tirar esse peso das costas. Empurrou o portão e foi em direção a porta e abriu-a.
- Arthur?
- Aqui em cima.
A única luz que iluminava a casa era a do segundo andar. Sophia subiu as escadas e foi em direção ao quarto. Lembrava daquele lugar como se fosse sua casa, mesmo tendo passado mais de 10 anos sem ir até lá. Chegou na porta e se deparou com ele sentado no chão com os olhos vidrados na TV enquanto jogava vídeo game.
- Pode entrar Soph...
Caminhou até a cama e sentou-se na ponta da cama.
- Teu quarto continua igual.
- É...
Ela olhou as paredes brancas e viu um desenho que havia dado para Arthur na segunda série.
- Não acredito que tu guardou isso – disse ela levantando-se e pegando o desenho.
- É... Eu gosto de olhar e lembrar daquela época – ele também havia levantado-se e estava do lado dela.
- Por que? – disse ela com a chave na mão.
- Pra quando tu se cansasse da janela e do café.
 - Como tu sabe da janela e do café?
- Quando tínhamos oito anos era janela e refrigerante... Acho que deduzi – ela riu – tu sabe Sophia. Jurei que iria te fazer feliz e te proteger.
- Mesmo depois de tudo que te fiz?
- Mesmo depois de tudo que tu me fez.

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